quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Real Gabinete Português de Leitura


Estamos vivendo um momento inédito no Brasil, pois pela primeira vez estamos sediando as Olimpíadas.

Tenho acompanhado pela televisão as competições pois admiro muito a superação pessoal de cada atleta e este é um momento muito especial para cada um deles.

Entre uma notícia e outra, fiquei pensando em um tema para este artigo, que tivesse alguma ligação com a história da cidade do Rio de Janeiro que, infelizmente, só é lembrado por suas praias, carnaval e violência.

Entretanto, o Rio tem muita história guardada em seus prédios antigos e o que me veio à mente foi o Real Gabinete Português de Leitura, que em 2014 foi eleita a quarta mais bela biblioteca do mundo, segundo a revista americana Time.


Placa de bronze da fachada

É um local riquíssimo em história, patrimônio e cultura. Apesar disso, o Real Gabinete é pouco conhecido pelas pessoas e muitos dos que passam por frente dele, pensam se tratar de uma igreja, pois em sua fachada há quatro estátuas, em tamanho natural, de importantes navegadores portugueses que lembram muito a imagem de santos da igreja católica.

Pois bem, a instituição foi fundada em 1837 por refugiados políticos portugueses para promover a cultura entre a comunidade portuguesa na então capital do Império.

O belíssimo prédio da atual sede foi projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva Castro e erigido entre os anos de 1880 e 1887. O Imperador D. Pedro II lançou a pedra fundamental em junho de 1880 e sua filha, a Princesa Isabel, o inaugurou em setembro de 1887.

Seu estilo arquitetônico é o Neomanuelino que remete ao estilo gótico-renascentista (também vale a pena ver este link), vigente à época dos descobrimentos portugueses. Sua fachada foi inspirada no Mosteiro dos Jerônimos de Lisboa e esculpida pelo artista Germano José Salle e trazida ao Brasil de navio. As quatro estátuas da fachada retratam Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Luís de Camões e o infante D. Henrique. Ainda na fachada, existem medalhões que retratam os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.


Fachada do Real Gabinete
 Outra visão, da praça em frente


Vista noturna


 Seu interior segue também o estilo Neomanoelino nas portadas, estantes de madeira para os livros e monumentos comemorativos. A estrutura da claraboia da sala de leitura é feita de ferro, o primeiro exemplar no país, e um candelabro magnífico ornamenta esta sala. 


Salão de leitura


Vista interna do teto da sala de leitura


Ainda nesta sala de leitura existe um belíssimo monumento, conhecido como “Altar da Pátria”, com 1,7m de altura, feito em prata, marfim e mármore que celebra a época dos descobrimentos. Este monumento foi feito na cidade do Porto, na Casa Reis e Filhos, e adquirido pelo Real Gabinete em 1923.


O chamado "Altar da Pátria"


Outra vista do "Altar da Pátria"



A biblioteca do Real Gabinete foi aberta ao público em 1900. O local possui a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal. Entre os cerca de 350.000 exemplares nacionais e estrangeiros encontram-se obras raras como uma edição de “Princeps” de Os Lusíadas de Luís de Camões (1572), As Ordenações de D. Manuel (1521), um manuscrito da comédia “Tu, só tu, puro amor” de Machado de Assis e muitos outros.

Há também uma importante coleção de pinturas de José Malhoa, Carlos Reis, Oswaldo Teixeira, Eduardo Malta e Henrique Medina.



Vista de cima do salão de leitura

Vista do chão com o salão de leitura aberto ao público


Corredores do acervo. Note os detalhes das arcadas esculpidas.

Entre seus ilustres visitantes do passado estão Machado de Assis, Olavo Bilac e João do Rio. Atualmente o Real Gabinete recebe, em média, 150 visitantes por dia.

O Real Gabinete edita a Revista Convergência Lusíada (semestral). Promove cursos sobre Literatura, Língua Portuguesa, História, Antropologia e Artes. Tais cursos tem como foco, principalmente, estudantes universitários.


Edição 23 da Revista Convergência Lusíada

Um fato importante para o local também, é que as cinco primeiras reuniões da Academia Brasileira de Letras, foram realizadas ali sob a presidência de Machado de Assis.

O prédio histórico foi utilizado ainda como locação para filmes, telenovelas e especiais para a TV. Os principais foram:
  • O Primo Basílio (1988)
  • Os Maias (2001)
  • O Xangô de Baker Street (2001)
  • Mad Maria (2005)
  • Vinicius (2005)

Para quem visita o Rio de Janeiro e gosta de um passeio cultural, vale a pena visitar o Real Gabinete Português de Leitura e ter a oportunidade de voltar no tempo e saber um pouco mais sobre os colonizadores de nosso país.

Para maiores informações como localização, horário de atendimento ao público, cursos e outros clique aqui.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Novo não vem se o Velho não for - "Paço da Liberdade".

Quando comecei minha pesquisa para escrever o artigo anterior, minha intenção era escrever sobre o Paço da Liberdade, mas como ficou claro aqui, não poderia falar dele sem me aprofundar na história do Mercado Municipal.

A história do Paço da Liberdade tem início em 1914 quando, em seu segundo mandato, o prefeito de Curitiba, o engenheiro civil Cândido de Abreu, iniciou a sede da municipalidade no Largo da Cadeia, posterior Largo do Mercado e atual Praça Generoso Marques.


Construção do Paço com a fachada do Mercado Municipal - 1915

A construção foi concluída no dia 6 de fevereiro de 1916. A construção é em tijolos de alvenaria com base em blocos de concreto e cantaria. Conta também com detalhes neoclássicos e desenhos em art-nouveu.

Sua inauguração deu-se em 24 de fevereiro de 1916.


Imagem da déc. de 1940

O Paço Municipal ficou sediado neste prédio até 1969, quando na gestão do prefeito Omar Sabag mudou-se para o Palácio 29 de Março, no Centro Cívico, região próxima ao Passeio Público, onde está centralizado os poderes Legislativos do Estado do Paraná.

Desta data até o final do ano de 1970 o prédio do Paço abrigou o Projeto Rondon.

Em 1972 o prédio do Paço da Liberdade é fechado para restauração sob responsabilidade dos arquitetos Cyro Lyra e Abrão Assad, e em 1974, prefeitura e governo firmam convênio para que seja estabelecido no local o Museu Paranaense, permanecendo ali até o ano de 2002.

A partir de 2002 o prédio do Paço da Liberdade permaneceu fechado e acabou em precárias condições de conservação, até que em 2007, na gestão do então prefeito Beto Richa, foi firmado um convênio para restauração e reforma entre a prefeitura de Curitiba, a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio/Sesc), o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e a empresa Emadel Engenharia, sob a responsabilidade do arquiteto Humberto Fogassa.

Durante os trabalhos de restauro, arqueólogos descobrem sob o piso do prédio, parte do piso e da parede do antigo Mercado Municipal. Esse local foi preservado e pode ser visto, pois está recoberto com vidro.

Em 2009 o Paço da Liberdade foi entregue à cidade totalmente revitalizado.

Atualmente o Sesc/Fecomércio administram o local e a entrada é franca. O local dispõe de uma biblioteca; um acervo com móveis antigos e bem preservados, da época em que o prédio sediava a prefeitura; no último piso do Paço, o local é reservado para exposições itinerantes, lançamentos de livros, e outros eventos culturais; o local também dispõe de salas para realização de cursos e palestras do Sesc.


Auditório 1

 Auditório 2

É encantador os detalhes do entalhe das portas

 A escadaria é um charme à parte




 Local reservado para exposições itinerantes

Gabinete do Prefeito 

 Biblioteca

Como vocês podem perceber o Paço da Liberdade é um exemplo de espaço público muito bem aproveitado.

E por último, porém não menos importante,  eu não poderia deixar de falar do Café do Paço, um espaço de arte e aromas. Estar nesse café é como voltar no tempo. E o atendimento é excelente. 


Fachada da entrada do Café do Paço



A decoração dos pratos servidos é muito charmosa

Não tem como não se apaixonar pelo Paço da Liberdade. Tudo nele é encantador e muito bem preservado.

O Paço da Liberdade é um exemplo prático de que é possível unir o antigo e o novo. E que a preservação de nossa memória histórica é a chave mestra para que isso aconteça. 

 Vista noturna do Paço da Liberdade

 Ao fundo da para visualizar a Catedral Metropolitana de Curitiba


 
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quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Novo não vem se o Velho não for - Mercado Municipal de Curitiba

Hoje vou puxar a brasa para a minha sardinha. Falarei sobre dois pontos turísticos de Curitiba, minha cidade.

Irei tratar do Paço da Liberdade e do Mercado Municipal. Um precisou morrer para o outro nascer, mas logo vocês entenderão.

O primeiro Mercado Municipal de Curitiba situava-se na Praça Zacarias, região central da cidade, em um imóvel que pertencia ao governo do estado. O mercado era conhecido popularmente como "Mercado de Quartinhos e o ano era 1864. Permaneceu nesse endereço até 1869, quando o Governo requisitou o prédio e o mercado ficou sem uma sede por quatro anos.

 Praça Zacarias final do Séc. XIX

Praça Zacarias por colta de 1930

No dia 19 de dezembro de 1873  foi lançada a fundação da pedra fundamental para a construção do prédio que abrigaria o Mercado, localizado no Largo da Cadeia, atual Praça Generoso Marques.

A construção foi rápida e em 11 de outubro de 1874 foi inaugurado o novo Mercado Municipal. Sua importância era tal que, em 1890 o Largo da Cadeia foi rebatizado como Largo do Mercado.
Mercado Municipal no Largo da Cadeia


No final no Séc. XIX o Mercado era de fundamental importância, pois era um ponto de confluência da sociedade. Além das transações comerciais dos produtores rurais, as pessoas encontravam-se no local para saber dos acontecimentos políticos, bem como das "fofocas" da cidade. O fluxo era intenso e assim foi por 38 anos.

Fachada do Mercado Municipal no início do Séc. XX

Mas infelizmente, como diz o velho ditado, "o novo não vem se o velho não for". E foi justamente o que aconteceu. 

Na primeira década do Séc. XX surgiu a necessidade da construção do Paço Municipal. 

E não é que decidiram que deveriam demolir o prédio do mercado para construir o prédio da nova sede da prefeitura?

Sim, infelizmente foi essa a decisão tomada, certamente por sua localização no coração comercial, político e jurídico da cidade.

E foi assim que morreu o Mercado Municipal e nasceu o Paço Municipal.

O prédio do Mercado foi demolido em 1912. Sua sede passou por dois endereços e ficou instalada no bairro do Batel até o final da década de 1930, quando o prédio foi demolido mais uma vez.

Nos vinte anos seguintes as feiras de Curitiba não tiveram um prédio para abrigá-las. Nesse meio tempo as feiras eram realizadas de forma itinerante pelos bairros da cidade.

O prefeito Ney Braga, em 1954, autorizou por meio de decreto a construção do prédio do Mercado Municipal em um terreno localizado em frente a estação rodoferroviária da cidade. A inauguração se deu em 2 de agosto de 1958, onde encontra-se até o presente momento e, graças a Deus, ninguém mais resolveu demoli-lo.

Atualmente o Mercado foi todo revitalizado. Dispõe de vários restaurantes, lanchonetes e lojas em seu mezanino. No térreo, na parte central localiza-se a feira de hortifrútis, possui também ótimos açougues, empórios de bebidas e produtos embutidos, cafeterias que nos fazem voltar no tempo e lojas de produtos naturais.

Um ambiente muito gostoso tanto para as famílias aqui de Curitiba como para os turistas que visitam nossa cidade, como bem mostram as fotos abaixo:














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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Turismo e Cultura

O Turismo enquanto "deslocamento", constitui em si um fator cultural. As pessoas se deslocam movidos pela curiosidade em conhecer culturas e locais diferentes de sua realidade cotidiana. 

O local escolhido pode ser campo, praia, uma cidade histórica, uma cidade com vida noturna agitada, uma cidade cujo ponto forte seja a gastronomia, ou simplesmente um local bucólico. Seja qual for a escolha do roteiro turístico a ser seguido, o turista anseia em desfrutar daquele meio, descobrindo particularidades que o farão jamais esquecer daquele momento.

Buenos Aires - ARG 
Natal - RN

 Vida noturna de Amsterdam - Holanda

 Castelos na Alemanha 

 Machu Pichu - Peru

Canela - RS

Catedral Metropolitana de Curitiba - PR

Turismo Rural - SC

O que eu desejo com meu blog é justamente mostrar como o Turismo pode e deve agregar valores para as pessoas, aproximando-as dos bens culturais de modo a desmistificar a crença de que Turismo Cultural se faz apenas em museus. 

Meu intuito é trazer à tona a percepção de que cada cidadão é responsável por construir a história e, que a interação com as comunidades e grupos sociais visitados é imprescindível, tanto para a função do passeio como para o crescimento do "cidadão turista".

Esta foi uma breve apresentação do que virá pela frente. Espero que vocês gostem e interajam com meu blog. Aceito dicas de locais turísticos e também não tão conhecidos, adoro desvendar a história por trás de uma paisagem ou de uma casa antiga.

Até breve!